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Abril 2018 Nº330

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Fora dos trilhos da competitividade

Em 1804 é criada a primeira locomotiva a vapor pelo Escocês Richard Trevithick. O transporte ferroviário surge da necessidade de transportar pessoas e cargas com maior velocidade. Mas a primeira ferrovia no mundo é construída na Inglaterra, cerca de duas décadas depois, em 1825. E pouco tempo depois, em 1854, é inaugurada a primeira ferrovia no Brasil, transportando pessoas e cargas do Rio de Janeiro a Petrópolis.


Entender um pouco da história da ferrovia ajuda a derrubar mitos que tentam justificar nosso atraso na utilização desse importante modal. O problema não teria qualquer relação com o tempo que a ferrovia está presente no Brasil, já que em poucos anos a novidade que nasce na Inglaterra chega por aqui. Mesmo assim, após quase dois séculos da sua chegada, é triste constatar o abismo que separa o Brasil de outros países com dimensão territorial semelhante.

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Canadá, China e Estados Unidos tem porte territorial semelhante ao Brasil. Apesar disso o uso da ferrovia em relação aos outros modais é quase o dobro do que vemos por aqui. A Austrália, um país com 10% menos área territorial que nós, tem na sua matriz de transporte o uso da ferrovia em 43% do volume. No caso do Brasil o uso é de apenas 25%.
A figura acima demonstra a distribuição do volume de carga escoado por modal em cada um dos seis maiores países em extensão territorial. No entanto, a situação fica ainda mais alarmante quando comparamos a densidade da malha ferroviária, ou seja, a quantidade de trilhos (em milhares de quilômetros) pela área do país (em milhões de km2). O Brasil tem uma densidade de malha da ordem de 3,4 enquanto os Estados Unidos uma densidade de quase 25 (8 vezes maior que a nossa). Outra maneira de ver o mesmo fato em outra perspectiva: os Estados Unidos possuem mais de 230.000 km de ferrovias, enquanto o Brasil cerca de apenas 30.000 km.
Não bastasse esse déficit de malha ferroviária, outro problema no Brasil é a improdutividade da ferrovia existente. Analisando apenas um dos indicadores de produtividade, a velocidade dos trens, temos mais clareza desse problema. Nos Estados Unidos a velocidade média é de 39 km/h, enquanto no Brasil de apenas 29 km/h. Uma diferença de quase 35%.
A situação logística, especialmente a forma de uso dos modais, afeta diretamente o chamado custo Brasil. Nosso custo logístico consome cerca de 13% do PIB do Brasil, um valor muito elevado se comparado a outros países que concorrem com o Brasil no comércio internacional. Apenas como referencia, para se ter uma noção do tamanho do problema, nos Estados Unidos esse custo representa apenas 7,8% do PIB.
Por essas e outras que de acordo com a Global Competitiveness Report 2017-2018 o Brasil ocupa a posição de número 80 no ranking de competitividade entre os 137 países avaliados, atrás de países como Tajiquistão, Jamaica e Servia. E no quesito infraestrutura ficamos apenas na posição de número 73.
Não estou dizendo que a ferrovia deva ser priorizada em relação aos demais modais. A bem da verdade não existe o melhor modal logístico. Ferrovia, rodovia, hidrovia e marítimo são modais complementares e que devem ser utilizados de forma integrada, a depender sempre da característica do transporte. Alguns estudos apontam que o rodovia deve ser utilizada para transportes de 0 a 400 quilômetros de distância, enquanto a ferrovia para distâncias entre 400 a 1500 km e finalmente a hidrovia para trajetos superiores a 1500 km.
O mais importante é um país dar opções para as empresas escoarem seus produtos de forma competitiva. Investimentos em ferrovias são elevados se comparado ao modal rodoviário e demandam muito mais tempo para serem concretizados. Por isso são necessárias políticas de governo de longo prazo que ajudem o país a mudar de patamar.
Mas infelizmente essa situação deve permanecer ainda por alguns anos, o que pode piorar nossa posição no ranking de competitividade. Conforme matéria divulgada pelo jornal globo https://oglobo.globo.com/economia/crise-economica-afeta-obras-em-ferrovias-que-eram-prioridades-do-pac-18424113 a crise orçamentária tem afetado em cheio obras em ferrovias que eram prioridade no PAC.
Enquanto isso o crescimento da ferrovia vai acontecendo de forma lenta, graças a algumas parcerias entre operadores logísticos e iniciativa privada. Mas isso ainda é pouco para o tamanho do nosso desafio e principalmente da oportunidade que temos. O abismo que nos separa de outros países deve ser visto como um potencial que poucas nações do mundo têm atualmente para explorar. Mas potencial sozinho, sem ação, é apenas sonho. E já passou da hora do Brasil acordar.
Alessandro Scapol Compatangelo
17 anos de experiência nas áreas de Suprimentos e Logística, atuando em multinacionais dos setores de Papel, Celulose e Petroquímica. Conselheiro do Conselho de Autoridade Portuaria (CAP) dos portos de Aratu e Salvador nos anos 2014 a 2016.

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