Para 31% dos operadores logísticos que atuam em todo o território nacio-nal, os desafios da dis-tribuição vão além das fronteiras de estradas ou centros distribuição. Esbarram muitas vezes em diferenças culturais, mudanças de legislações, variação de temperaturas e falta de mão de obra capacitada. Por outro lado, ampliam a capacidade de atendimento, reduzem custos logísticos e se tornam mais competitivas.
E para lidar com esse cenário não basta apenas “jogo de cintura”. Segundo Felippi Perez, diretor comercial da Keepers Logística, para operar em todos os estados é necessário estudar e conhecer as diversas malhas logís-ticas, legislação e potenciais gargalos da região. “Cada estado brasileiro tem diferentes características quanto aos modais utilizados.”
Questão cultural
É 13h23 em Vitória, capital do Espírito Santo. Um caminhão acabou de estacionar na doca e os funcionários já posicionaram as empilhadeiras para a desova, conferência e separação da carga. Parte dessa carga será enviada para Jaciara, no Mato Grosso, mas um problema na checagem exige contato com a filial da cidade, para confirmar dados da nota fiscal quanto a mudanças na alíquota do imposto. Após três tentativas de contato sem sucesso, o responsável pela verificação lembra que Jaciara está em horário de siesta e paralisa a operação por 40 minutos, até o retorno das atividades na filial para que a alteração da nota possa ser confirmada.
Embora esse cenário seja apenas um exemplo, a situação é comum para muitos operadores logísticos que atuam em todo território brasileiro. Enquanto para algumas empresas isso pode ser motivo de revolta, advertência ou até demissão, para outras é só uma dife-rença cultural, que deve ser respeitada e driblada como outras adversidades que o setor oferece. “O Brasil é um país de dimensões continentais, geografica-mente, politicamente e culturalmente muito diferente”, acrescenta Felippi.
“Em determinadas cidades ou regiões as empresas literalmente fecham as portas e deixam de receber, separar pe-didos, expedir ou transportar, até que a hora do almoço se encerre. E nenhum transportador ou gerente mais agitado, principalmente vindo de fora, mudará essa cultura.” Segundo o executivo, esses eventos ocasionam atrasos e dificultam o aumento da produtividade em determinadas atividades.
Para Rildo Ramires, diretor de operações da Art-Services, os cen-tros de distribuição são os que mais sofrem operacionalmente com as mudanças culturais, pois dependem diretamente de profissionais. “Algu-mas regiões, por exemplo, têm menos percepção da importância de cumprir prazos e procedimentos, porque, re-gionalmente, é tolerada indisciplina e essa desobediência aos padrões é vista muitas vezes como criatividade.”, aponta.
Ir contra as diferenças culturais pode não ser a melhor alternativa para sanar o problema. Segundo José Henrique Bravo Alves, diretor geral da Manserv Logística, a melhor maneira de lidar com a diversidade é absorver o máximo possível de pro-fissionais locais. “As lideranças locais devem ser treinadas e desenvolvidas por profissionais corporativos ou de outras regiões durante um período de tempo definido somente para absor-ção da cultura da empresa”, explica.
“A interferência nas operações é muito influenciada pela cultura local, pois está na base da comunicação, que é vital a qualquer negócio que envolve pessoas.”
Leis, normas e tributos
Mais do que diferenças culturas, quem atua em todo território brasi-leiro precisa entender e se atualizar constantemente quanto às normas e às leis de cada estado e cidade. São variações que podem afetar tanto a forma de arrecadação de tributos quanto a normas de trânsito.
Para Rildo, as legislações trazem quase que apenas barreiras à ope-ração logística. “As interpretações de cada estado sobre recolhimento adiantado do diferencial de alíquota dificulta o cumprimento dos lead ti-mes cada vez mais apertados”, exemplifica o executivo. “As restrições de circulação em municípios das regiões metropolitanas têm aumentado o custo das coletas e reduzido o tempo para separação nos armazéns.” Ainda segundo ele, essa combinação pode exercer uma pressão para o aumento dos prazos do setor de transportes.
Já Felippi, acredita que é possível encontrar barreiras e apoios nas diferentes legislações. “Algumas barreiras são intransponíveis, assim como alguns apoios são determinantes para o desenvolvimento da empresa e da região”, acrescenta. Há também quem veja essas barreiras com otimismo.
“As dificuldades são somente relati-vas às diversas legislações específicas, a Manserv, por exemplo, optou por implantar um setor corporativo abrangente e escritórios jurídicos locais”, conclui José Henrique.