O termo é pomposo, mas um tanto complicado. “Logística reversa” quer dizer que as fabricantes devem se preocupar com o caminho inverso do que colocam no mercado.
Desde que a Lei da Política Nacional de Resíduos Sólido entrou em vigor, em 2014, as empresas que fabricam qualquer produto no Brasil têm a responsabilidade compartilhada com cidadãos e governos de evitar que os materiais utilizados terminem desperdiçados, contaminando o meio ambiente. Um belo estímulo para que sejam reaproveitados, voltando ao ciclo produtivo e evitando também que mais matéria-prima precise ser extraída da natureza.
A fabricante de embalagens Tetra Pak faz um trabalho exemplar nesse sentido muito antes do surgimento da lei. Para dar conta do recado, a empresa atua em todos os elos da cadeia – consumidor, poder público, vendedor, reciclador e quem desenvolve produtos à base dos materiais das suas caixinhas. O trabalho não é pouco, afinal, apenas no último ano (2017), a empresa produziu 11,7 bilhões de embalagens somente no Brasil. Mesmo com tanto empenho, hoje a taxa de reciclagem das embalagens Tetra Pak ainda não chega a 25%. “A meta de 2018 é chegar a 24,1%, mas nossa expectativa é de que vamos superar essa meta e crescer a cada ano”, afirma Valeria Michel, diretora de Meio Ambiente.
Caixinhas 100% recicláveis
O cuidado vem desde a escolha das matérias primas. Lá da árvore que se transforma no papel cartão, lá no material usado no plástico das tampas e também lá nos processos de fabricação, inclusive nos componentes químicos envolvidos. A proposta é reduzir ao mínimo o impacto negativo e multiplicar os impactos positivos no meio ambiente e nas pessoas. “Nosso compromisso é proteger alimentos, pessoas e o futuro”, enfatiza Valeria Michel, diretora de Meio Ambiente.
As seis diferentes camadas das caixinhas da Tetra Pak, conhecidas como “longa vida”, permitem que o alimento seja preservado por um bom tempo apesar de estarem fora da geladeira. A camada de alumínio aliada às de polietileno garantem esse diferencial porque impedem a passagem de oxigênio, luz e ar, principais fatores que estragam as comidas. Mas o plástico alumínio conforma uma pequena parte da embalagem, enquanto o papel representa 75% da composição da embalagem. Por se comprometer com um produto 100% reciclável, a fabricante de origem sueca trabalha aqui no país exclusivamente com uma fornecedora desse material, a Klabin. Isso porque ela foi a primeira – e por algum tempo a única – empresa de papel e celulose certificada FSC, que garante o manejo sustentável das florestas.
Já as tampas de 82% dos seus produtos não são feitas mais do petróleo, foram substituídas por materiais renováveis, o polietileno da cana-de-açúcar. A empresa também eliminou da sua linha de produção o solvente clorado, que afetava a saúde dos funcionários e a natureza, e passou a usar desde 1998 somente tinta à base de água. Além disso, 100% dos resíduos retirados da fábrica vão para reciclagem.
Rota de reciclagem
Na prática, depois de usadas pelos consumidores, as embalagens descartadas adequadamente são recolhidas pelos catadores que vendem o material para as papeleiras. Ao ficarem imersas em água em movimento, as camadas de papel se soltam facilmente da camada de plástico alumínio – que oferece assepsia e equilíbrio térmico ao conteúdo. As papeleiras ficam com a pasta de celulose para fabricar novos produtos de papel. E o plástico alumínio segue outros caminhos, e cada vez vai encontrando novos usos. “Começamos fabricando uma canetinha a partir desse material. Hoje já temos telhas e paletes de alta resistência, assim como produtos de design, fabricados com esse material por diferentes empresas”, conta Valéria.
Para apoiar esses parceiros que devolvem os materiais das caixinhas para a cadeia de produção, a Tetra Pak começou oferecendo comodato de equipamentos para agilizar a separação e o transporte dos componentes das embalagens. Com o tempo, a empresa observou outro instrumento poderoso para melhorar os processos e conquistar mais adeptos: a capacitação em gestão e liderança. E há cerca de cinco anos mantém dois programas com esses objetivos para as cooperativas de catadores.
Mas esse ciclo de reaproveitamento também depende em grande parte da sociedade em geral enxergar a importância da reciclagem e destinar seus resíduos adequadamente. Por isso, desde 1997, a Tetra Pak faz um trabalho de educação ambiental para conscientizar a população sobre coleta seletiva. Um dos públicos-alvo desse trabalho estão nas escolas: as crianças influenciam os pais e toda a comunidade. Em 2007, os programas de conscientização foram atrelados a iniciativas culturais – cinema e teatro -, que rodam o país para passar essa mensagem.
Para ajudar as pessoas a entregar os materiais separados, a fabricante criou em 2008 a “Rota da Reciclagem”, uma plataforma – que depois se tornou também aplicativo – reunindo quase 5 mil pontos de coleta de material reciclável em todos os cantos do Brasil. Basta o interessado digitar seu endereço no campo de busca que o site encontra o local mais próximo onde levar o material reciclável. “Isso já foi uma planilha que consultávamos cada vez que alguém ligava pedindo indicação de local para entrega de material reciclável. A internet facilitou em muito a divulgação desses pontos”, conta Valéria.
Agora, complementando esse esforço de conscientização nacional, a Tetra Pak produziu uma websérie com um enfoque humano da reciclagem. “Gente que recicla” tem sete episódios mostrando como as pessoas fazem diferença no funcionamento da cadeia recicladora de embalagens longa vida, desde a simples ação de separar o material reciclável do material orgânico até a fabricação de novos produtos reaproveitando os recursos. “Queremos mostrar essa ‘gente invisível’ que trabalha com algo tão importante. Sempre acreditamos que essas pessoas precisavam ser conhecidas”, diz. Confira abaixo o primeiro episódio desta campanha.
Por Renata Valério de Mesquita viajou a convite da Tetra Pak para conhecer as fábricas e os modos de produção da empresa e da parceira Klabin.