Se o Nordeste já está sendo considerado a China brasi-leira nos últimos anos, hoje o Centro-oeste, Norte e o próprio Nordeste podem ser considerados o Bric brasileiro – refe-rência aos países emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China que deram um salto de crescimento na primeira década deste século. E razões não faltam para isso, nos últimos anos essas regiões têm apresentado taxas de investimento, desenvolvimento e crescimento popula-cional maiores que o Sudeste e o Sul, o que tem elevado o interesse da iniciativa privada e atraído investimentos.
A taxa de exportação da região Norte, por exemplo, registou aumento de 56%, o maior índice do País, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, In-dústria e Comércio Exterior. Enquanto o Nordeste, de acordo com dados do IPC Maps 2011, possui o segundo maior po-tencial de consumo, com participação de 17,6%, atrás somente da região Sudeste, com 52,2%. Já o Centro-oeste tem elevado a produção agrícola. Segundo estimativas do Ministério da Agricultura, a região aumentou o VBP (Valor Bruto de Produ-ção) em cerca de 35% em 2011, enquanto o Brasil não passou dos 5% no mesmo período. E engana-se quem acredita que esse crescimento está localizado apenas nas capitais ou grandes cidades. Segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), o PIB (Produto Interno Bruto) dos municípios com população entre 100 mil e 500 mil habitantes têm crescido 15% mais do que em cidades com população acima de 500 mil.
O setor logístico está aproveitando essa oportunidade. Segundo os dados do Perfil Operadores Logísticos 2012, 39% dos operadores logísticos respondentes atuam exclusivamente nos estados do Conn (Centro-oeste, Norte e Nordeste). A Stock Tech é um exemplo. Há três anos a empresa colocou o Nordeste como região estratégica para seu plano de cresci-mento, instalando centros de dis-tribuição de multi-temperatura e criando serviços e preços diferencia-dos para a região.
Atualmente, a empresa possui seis unidades no Nordeste, que representam 30% de seu faturamento.
No entanto, ainda há muito a ser feito para melhorar as condições logísticas do Conn, como construção e reestruturação de estradas no Norte e Nordeste, re-gulamentação do transporte fluvial, aumento do número de centros de distribuição e fiscalização, além de incentivos para a criação de mão de obra mais qualificada.
Nordeste
Depois da explosão do poder de consumo na região, os estados que com-põem o Nordeste estão em processo de desenvolvimento, reduzindo a ilegalidade do setor logístico e aumentando o profis-sionalismo. De acordo com Perfil Opera-dores Logísticos 2012, 48% das empresas citadas atuam no Nordeste, sendo que 6% desse montante atende apenas a região.
Para os operadores logísticos que já estão no Nordeste, o crescimento ainda não veio acompanhado de melhorias em infraestrutura.
Segundo Francisco Metidieri, da Pavlog, operador logístico com atuação na Bahia e outros estados, a região Nordeste foi a que apresentou maior incremento no salário médio do trabalhador nos últimos seis anos, atingindo o setor de alimentos, especialidade da empresa. Como conse-quência, a indústria aumentou a procura por operadores logísticos na região, trazendo como beneficio a implantação de novas tecnologias e um incremento de 250% nos três últimos faturamento anuais da empresa. “Mesmo assim, ainda é necessário que a iniciativa pública me-lhore o acesso ao mercado nordestino”, explica Francisco. “É preciso melhorar portos, ferrovias, aeroportos, rodovias e, principalmente, uma política de fácil acesso a linhas de créditos para aquisi-ção de novas tecnologias.”
De acordo com Agapito dos Anjos, diretor executivo da Stock Tech, há vários projetos logísticos no Nordeste que evo-luem em uma velocidade menor do que é necessário para suprir toda a demanda de crescimento da Região. Isso ocorre porque muitos dos envolvidos, seja governo, indús-tria, investidores e os próprios operadores logísticos, não enxergam o retorno que in-vestimentos em treinamento e capacitação de pessoas e implementação de sistemas de gestão pode trazer para a expansão do mercado, redução de perdas e aumento dos níveis de serviços.
Por outro lado, embora ainda não haja apoio conjunto na região para ace-lerar melhorias logísticas, há estados tentando fazer sua parte. Segundo Luiz Antonio Trotta Miranda, da DCDN, em-presa especializada em distribuição de equipamentos de movimentação para construção e logística, Pernambuco tem criado benefícios tributários para a instalação de centros de distribuição e isso tem contribuído para o desenvol-vimento do segmento no Estado. Mas, segundo ele, a região ainda sofre com gargalos logísticos, graças a falta de segurança no transporte e problemas tributários entre estados. “Cada esta-do tem uma legislação específica para máquinas e equipamentos, por isso acredito que a questão logística precisa fazer parte de um plano de governo voltado à região”, conclui.
Norte
Mesmo com falhas no transporte rodoviário de cargas, a região Norte foi uma das maiores exportadores de 2011 e, já no primeiro trimestre do ano passado, despontava no Índice de Ati-vidade Econômica Regional do Banco Central (IBCR), com 4,2% de crescimento, enquanto o Sudeste registrava 0,9% no mesmo período. Para o BC, esse resul-tado é fruto do ritmo de expansão da indústria, que foi estimulada tanto pela robustez da demanda interna, quanto pelo crescimento das exportações, o que anima 48% dos operadores logísticos que atuam na região, segundo dados do Perfil Operadores Logísticos 2012.
A região também registou ligeiro aumento no potencial de consumo, alcan-çando 5,4% ante 5,3% em 2010 (IPC Maps 2011). No entanto, algumas cidades apre-sentam forte crescimento e importante mercado consumidor, principalmente para o segmento de serviços. É o caso de Palmas, no Tocantins. A cidade tem atraído novos investidores interessados no foco sustentável da cidade, nos baixos índices de violência e na favorável qualidade de vida.
Mas para a setor logístico, algumas culturas precisam mudar. Segundo Agapito, existe ainda uma tendência de
se olhar apenas o custo aparente e ime-diato da atividade logística no Norte e Nordeste, o que acaba fazendo com que boa parte do mercado ainda se contente com operações de baixa performance e duvidosa qualidade. Mas, ainda de acordo com Agapito, há um movimento entre as empresas interessadas em mudar essa visão e profissionalizar o setor, o que será um longo trabalho, principalmente para melhorar a qua-lidade das estradas, já que a região possui a pior avaliação de rodovias de todo o País. De acordo com dados da CNT (Confederação Nacional do Trans-porte), cerca de 84% dos trechos foram apontados como “Regulares”, “Ruins” e “Péssimos” pelos usuários.
Centro-oeste
Apontada por especialistas do setor como a bola da vez dos próxi-mos anos, a região Centro-oeste é atendida por 47% das empresas par-ticipantes do Perfil Operadores Lo-gísticos 2012 e tem se destacado em diversos índices econômicos e so-ciais. Entre eles a geração de novos empregos. A região também apareceu como a responsável por uma das maiores taxas de crescimento popu-lacional, segundo dados do Censo 2010 (IBGE). Com a segunda maior média anual, 1,9%, a região além de ampliar sua capacidade produtiva, tem elevado o seu potencial de con-sumo. De acordo o IPC Maps, esse índice saltou de 7,7% em 2010 para 7,9% em 2011. Mais um indicador po-sitivo que favorece o potencial do Conn e alerta o setor a acompanhar a evolução dessas regiões.