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caminhrio6 1 868x64422Muito tem se falado nas últimas semanas sobre a greve dos caminhoneiros e os impactos negativos na já tão sofrida economia Brasileira.

Como todo evento crítico, não se deve tirar conclusões – ou estabelecer ações – sob fortes emoções. É preciso ter a frieza para parar e avaliar as verdadeiras motivações dessa paralização. Entender porque ainda sofremos com uma modalidade de transporte que parece não ser boa nem para os motoristas, nem para os contratantes e nem mesmo para o cliente final (população). O motorista, muitas vezes com razão, reclama que o frete mal cobre seus custos mensais. O empresário alega que o custo de transporte no Brasil inviabiliza a venda de seus produtos em algumas regiões e em outros países. E a população, que é quem paga o custo final logístico, ainda precisa conviver com estradas danificadas por alguns caminhões que não respeitam a lei da balança.

Então a pergunta que fica é quem está com a razão? Pode parecer esquizofrênico, mas todos estão com a sua razão. O transporte é mesmo precário, caro e não remunera adequadamente os caminhoneiros. E esse é o grande problema. Quando todas as partes envolvidas são impactadas de forma negativa, significa que algo de estrutural precisa ser feito. A discussão de uma tabela de frete mínimo não trata do problema na sua causa raiz. É apenas mais uma demonstração de fraqueza do governo e/ou da incapacidade técnica de lidar com o assunto. Todos sabemos que o conceito básico da economia é que o mercado se regula pela lei da oferta e demanda, e é assim que o preço se regula.

Mas se o frete é caro para quem contrata e inviável para quem presta o serviço, onde estaria o problema? A questão é que não existe apenas um fator responsável por essa conta que não fecha. Por exemplo, temos como um dos fatores principais, e já bastante comentado, o uso inadequado do modal rodoviário em detrimento da ferrovia, hidrovias e via marítima. Outro “vilão” do custo rodoviário são as condições precárias de boa parte das nossas estradas… Mas existe um outro fato, talvez tão ao mais relevante, que pouco ou em nada tem sido discutido. Fator este de reponsabilidade maior, mais não exclusiva, dos empresários Brasileiros: o tempo de espera para carregar/descarregar caminhões. A improdutividade do caminhão é um dos maiores motivos de termos uma tarifa que não paga o caminhoneiro e ainda assim é cara para quem contrata.

É com espanto que ainda observo empresas, inclusive de grande porte, negligenciando essa situação. Mais do que isso, usando de forma deliberada caminhões como se fossem parte do seu estoque em transição, parte do ativo fixo da empresa. Caminhões aguardando por dias e até semanas para serem liberados. Por vezes esquecendo que além do fato irracional de manter um ativo parado, e naturalmente gerando perdas financeiras, tem a própria questão humana. Como fica a vida desses caminhoneiros? E seus compromissos? Nao raramente a estrutura para receber esses motoristas são inadequadas, ou simplesmente adequada para alguns minutos ou poucas horas de espera.

O mais intrigante é observar que isso ocorre com frequência mesmo nas grandes organizações, com certificações de qualidade. Empresas que figuram entre as maiores do Brasil e até mesmo entre as mais desejadas para se trabalhar.
E enquanto essas empresas não tiverem um olhar estratégico e humano nas suas áreas de expedição e recebimento, continuaremos a ter o cenário onde quem presta serviço esta insatisfeito com a tarifa e quem contrata paga por uma logística que é cara demais.

É preciso investir em tecnologia da informação para programar de forma adequada carregamento e descarga dos caminhões. Naturalmente esse é um trabalho integrado entre cliente e fornecedor. Mas convenhamos que esse não será um dos projetos mais complexos que sua empresa colocaria em prática. Parece ser apenas uma questão de definir prioridades.

Mas antes de começar a investir em projetos, é preciso mudar de mentalidade interna dos gestores dessas empresas. Entender de uma vez por todas que não é normal manter caminhão como estoque avançado no cliente. Não é normal ter um caminhão parado na porta da fabrica, no final do mês, apenas para emitir NF com carga ainda não embarcada e garantir o resultado do mês. Não é normal expedir 70% do volume de vendas na ultima semana do mês. E acima de tudo, que não é normal esquecer que na boleia do caminhão tem um pai de família que quer apenas carregar/descarregar o seu caminhão e seguir viagem com a próxima carga.

Por Alessandro Scapol Compatangelo, líder de Suprimentos e Logistica em duas Multinacionais Brasileiras. Ex conselheiro do Conselho de Autoridade Portuaria (CAP) dos portos de Aratu e Salvador entre 2014 e 2016.

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