logisticareversa

logisticareversaLogística reversa é a área da logística que trata do fluxo físico de produtos, embalagens ou outros materiais, desde o ponto de consumo até ao local de origem. Processos nesse sentido existem há tempos, como retorno das garrafas de vidro, por exemplo, contudo, não eram assim denominados.

A preocupação em implantar a logística reversa em vários segmentos industriais cresceu no Brasil a partir da década de 1980, impulsionada pelo crescimento na geração de resíduos, associado às mudanças nos hábitos de consumo e à popularização de embalagens e produtos descartáveis. Esse momento coincidiu ainda com o despertar da conscientização da sociedade brasileira quanto à necessidade de preservação ambiental, e se refletiu na definição de novas políticas governamentais e empresariais. A legislação disciplina e orienta empresas e poder público sobre suas responsabilidades para a destinação das embalagens e produtos pós-consumo, e determina que os fabricantes devem responsabilizar-se pela logística reversa e destinação final ambientalmente correta. A Revista Logística & Supply Chain fez um overview sobre o tema para levantar como as organizações brasileiras estão atuando no trato de embalagens.

Automação reduz custos com logística reversa
A Oxford fabrica mensalmente seis milhões de unidades mensais – embaladas em 300 mil caixas – em suas três plantas industriais. Recentemente, a indústria implantou um sistema que eliminou o controle manual da identificação de produtos e expedição. O investimento de R$ 400 mil teve retorno em menos de um ano, como explica o gerente de Logística, Marcelo Corrêa. De acordo com ele o projeto nasceu no segundo semestre de 2014, quando iniciaram o alinhamento das demandas e orçamentos e março de 2015 foi assinado a proposta comercial e iniciado o desenvolvimento das aplicações. O desafio, na época, era 100% de acerto na expedição dos produtos. De lá para cá, a empresa desenvolveu uma aplicação para o setor de embalagem onde todo o apontamento de produção é feito pelo sistema de RFID (radiofrequência). “Temos uma outra aplicação que usa a tecnologia para comparar os produtos separados com o documento de embarque, assim, garantimos que o produto separado (picking) é o que o está no pedido de venda”, explica. Até chegar a esse resultado, a marca fez um estudo de caso, apresentando o a estimativa de ROI (Return on Investment) para a Diretoria. “Com a aprovação, revimos todo o escopo do projeto, definimos as regras de negócio para cada aplicação e, partimos para implementação”, complementa. De acordo com ele, foram feitos testes de usabilidade da tecnologia em duas ocasiões antes de definir o ROI e, após a aprovação, partiram para implementação. O projeto foi aplicado em duas unidades: em São Bento do Sul (SC), desde agosto de 2015, e em São Mateus (ES), em janeiro deste ano. A partir da adoção de código de barras para identificar as peças e lotes, além do sistema de radiofrequência (RFID, na sigla em inglês) para comunicação no sistema automatizado, a fabricante solucionou incorreções da expedição de pedidos, reduzindo a zero os problemas provenientes de quatro mil entregas mensais. Antes de automatizar a identificação de lotes da produção, cerca de 110 entregas apresentavam problemas e precisavam retornar à fábrica, o que gerava custos com logística reversa. Segundo Marcelo, a Oxford atingiu acuracidade de 99% dos embarques. Correa citou o objetivo da marca em estimular, por exemplo, os transportadores que prestam serviço para Oxford a implantarem leitores de RFID em seus processos, para melhorar esta etapa da distribuição.

“Acreditamos ser pioneiros na utilização da tecnologia na indústria e, assim, estamos ajudando a divulgar a utilização do RFID no segmento.” Marcelo Corrêa, gerente de Logística da Oxford.

Primeira certificadora de logística reversa do brasil
A Eureciclo é a primeira certificadora de logística reversa do Brasil, capaz de prestar um serviço transparente e conectar empresas, cooperativas e o consumidor final. Uma plataforma que analisa os caminhos do lixo gerado pós-consumo e armazena dados da cadeia de reciclagem. Representada por um sorriso nas embalagens dos produtos de seus parceiros, é a prova de que as marcas estão cumprindo com rigor os pedidos da Política Nacional de Resíduos Sólidos e, mais do que isso, que estão pensando no futuro do meio ambiente. Às mais de 400 empresas que contratam esse serviço é oferecido um pacote de incentivos de divulgação voltados para um marketing sustentável que inclui divulgação nas redes sociais do selo, além do direito de usar o símbolo nas embalagens. “No último ano, o aumento na produção de nossos parceiros foi de 160%. É possível perceber isso graças à alta, de mesmo valor, da massa de lixo compensado. Ela nos dá um panorama exato do quanto nossos parceiros têm crescido, uma vez que o número é relativo à compra de créditos proporcional ao que é colocado no mercado”, explica Thiago Carvalho Pinto, CEO e co-fundador do selo eureciclo. Para Thiago, a logística reversa de embalagens já é assunto prioritário nas áreas de marketing e ajuda a alavancar vendas. Empresas como a Lola Cosmetics e Natural One, que levam um conceito sustentável em seu DNA desde suas criações, já começaram a usar o selo Eureciclo, um símbolo que comprova que são responsáveis pelas embalagens que colocam no mercado. “A Lola Cosmetics é uma empresa que sempre teve como filosofia o comércio de cosméticos de origem justa e sustentável. Oferecemos produtos de excelente qualidade, produzidos com ingredientes de fontes renováveis e origem vegetal. Só utilizamos matérias-primas certificadas e diferenciadas com total respeito ao meio ambiente. A parceria com o selo Eureciclo é mais um passo na missão da Lola de oferecer produtos de qualidade que não firam o meio ambiente”, diz Dione Vasconcellos, sócia-fundadora da Lola Cosmetics.

“Queremos, sim, mudar o cenário da emissão de lixo e a falta de destinação para as embalagens, mas, também pensamos em como as empresas podem usar isso a seu favor.” Thiago Carvalho Pinto, CEO e co-fundador do selo Eureciclo.

 Boas práticas para transportes de carga
“Um dos grandes desafios das empresas para o século XXI é serem sustentáveis e, simultaneamente, eficientes na maneira como operam sua logística e demais atividades, sem que isso impacte sua economia. A criação deste manual visa assegurar a aplicação correta de práticas que persigam este objetivo”, afirma Márcio D’Agosto, coordenador técnico do Programa Logística Verde Brasil (PLVB). A entidade lançou, neste ano, o Manual de Aplicação: Boas Práticas para Transportes de Carga, cujo objetivo é orientar empresas, membras ou não, quanto à escolha, aplicação, avaliação e relato das boas práticas. O material traz ainda dados sobre poluição atmosférica, representatividade da logística no PIB e de quanto a logística impacta as emissões de gases poluentes. Um dado interessante, por exemplo, é o de que cerca de 80% das boas práticas do Manual levam à redução dos custos de diversos processos e atividades. Além da distribuição de 1.500 cópias impressas, o guia conta com uma versão eletrônica disponível no endereço eletrônico do PLVB para download gratuito. Dentre as empresas que participam do PLVB, estão BYD, Clariant, Coca-Cola, Dow, Heineken, HP, Ipiranga, L’Oreal, Mercedes-Benz, Scania, Siemens e Unilever. “A logística reversa está inserida no grande esforço de tornar cada vez mais eficiente o processo logístico, permitindo o reuso, a recuperação e a reciclagem de diferentes insumos de produção que estão ligados as atividades logísticas primárias e de apoio”, explica Marcio D’Agosto. Segundo ele, o grupo considera essa questão especificamente em um de suas Câmaras Técnicas, a de Logística Mais Limpa (L+P), que trata especificamente de todas as ações relacionadas a gestão de resíduos e de recursos naturais, como uso de combustíveis, lubrificantes, água e materiais de consumo e apoio.

“Há um forte compromisso do PLVB com as questões associadas ao aprimoramento da gestão dos resíduos e de práticas sustentáveis, que levem ao aumento da eficiência dos processos logísticos com redução de custos e de impactos ambientais, potencializando os benefícios sociais.” Marcio D’Agosto, coordenador técnico do Programa Logística Verde Brasil (PLVB).

Maior iniciativa de logística reversa do Brasil
Há oito anos, a Diageo – maior empresa de bebidas do tipo premium do mundo – recolhe embalagens de vidro e as envia para cooperativas de reciclagem. De acordo com a gerente de Comunicação e Sustentabilidade da Diageo, Maria Teresa Orlandi, o Glass is Good é um programa pioneiro em logística reversa do vidro que tem como objetivo é estimular a reciclagem do vidro. Segundo a executiva, o processo conta com quatro etapas. A primeira delas é a separação do material, no qual os clientes e parceiros do Glass is Good separam e armazenam as embalagens de vidro pós consumo. Na fase seguinte, de Coleta, a empresa de logística recolhe as embalagens, encaminhando para a Tritura, quando os materiais são levados para as cooperativas que armazenam e trituram o vidro. Na última fase, de Reciclagem, o vidro é encaminhado para a Owens Illinois, que transforma o material em novas garrafas. Após o processo, a Diageo compra as garrafas da fabricante parceira. O Glass is Good tem abrangência nacional e está presente em cidades como Belo Horizonte (MG), Campinas (SP), Fortaleza (CE), Natal (RN), Recife (PE), Ribeirão Preto (SP), Rio de Janeiro (RJ), Santana de Parnaíba (SP) e São Paulo (SP). O programa, idealizado pela Diageo, atua em parceria com outras indústrias como Heineken, Pernod Ricard, Cia Muller e Owens Illinois, além de 140 estabelecimentos (entre bares e restaurantes), onde as embalagens de vidro são coletadas e encaminhadas para reciclagem. O programa apoia e gera oportunidades nas 18 cooperativas parceiras, sendo responsável por um incremento na renda de 596 cooperados (o vidro responde por 20% a 30% da renda de uma cooperativa). Também patrocina máquinas e equipamentos, contribuindo para a segurança no trabalho e para a capacitação para atingir as exigências para venda direta à indústria. Isso contribui para profissionalização das cooperativas, desde apoio na parte administrativa, com emissão de nota fiscal eletrônica, por exemplo, até capacitação e melhores condições de trabalho para os cooperados, com equipamentos adequados para trabalhar com o vidro. “Nós dois últimos, o volume de vidro reciclado dobrou, registrando o número histórico de mais de 20 mil toneladas de vidro recicladas, que representa um montante de 43 milhões de garrafas de 1L. “Só no ano fiscal de 2018, por exemplo, foram coletadas mais de seis mil toneladas de vidro, o equivalente a mais de 12 milhões de garrafas”, explica. Atualmente, o Glass is Good é a maior iniciativa de logística reversa do Brasil, com mais de 500 cooperados beneficiados. 100% das embalagens utilizadas pela Diageo já são recicláveis. 90% das garrafas de Ypióca são retornáveis. A expectativa é crescer pelo menos 20% em volume no próximo ano fiscal. De acordo com Maria Teresa Orlandi, a iniciativa ajuda na construção da logística reversa de um dos materiais mais difíceis, complexos e de menor valor de retorno. Além disso, a iniciativa, engaja e constrói redes duradouras e sustentáveis.

“O programa Glass is Good contribui e atua para a mudança do setor por meio da mobilização de parceiros, inclusive concorrentes, em prol de questões sociais e ambientais”, afirma Maria Teresa Orlandi, gerente de Comunicação e Sustentabilidade da Diageo. 

Multicaixas retornáveis para o varejo
A Agnus Sistemas Logísticos é responsável pela gestão de ativos da HB-SMR, empresa holandesa de soluções multicaixas retornáveis, utilizadas por supermercadistas na padronização de suas operações junto aos fornecedores. O trabalho iniciado há seis meses, envolve receber, separar, higienizar e expedir caixas desmontáveis, em uma área exclusiva, de 350 metros quadrados, dentro de seu centro de distribuição em Londrina (PR). Segundo Marcio Morete, diretor comercial da Agnus, 180 mil unidades passam pelo local, por mês, mantendo o fluxo de esterilização a cada uso. A empresa está atendendo cerca de 30 produtores que abastecem as redes Super Muffato e Cidade Canção, na região metropolitana de Londrina e Maringá (PR). Segundo Marcio, dentre os diferenciais oferecidos pela Agnus é o tempo reduzido de estadia dos veículos pela espera de carregar ou descarregar, devido à eficiência de gestão. Na operação HB-SMR, por exemplo, os veículos – que esperavam em média duas horas para carregar no operador logístico anterior – agora, entre a chegada e a saída (carregados), são, no máximo, 30 minutos. Essa e outras funcionalidades são gerenciadas com uso de um software exclusivo. Segundo o diretor comercial, para atender a HB, a Agnus implantou algumas adequações de infraestrutura como a criação de rampas de carga e descarga, projetadas especificamente para essa operação. “Como se tratam de produtores rurais, as caixas são coletadas pelos mais diversos tipos de veículo”, justifica.  A jornada de atendimento também foi personalizada, adaptando um misto de equipe fixa e variável para atender os picos semanais e os horários que os produtores necessitam. Assim é possível conciliar as entregas nas redes varejistas e as coletas na Zona Rural. De acordo com Marcio Morete, a Agnus tem como meta acompanhar com indicadores de desempenho toda o processo e, para isso, a acuracidade do inventário é de 100%, tendo todas as ocorrências de divergência sanadas.

“Por mês, 180 mil caixas desmontáveis passam pela Agnus, mantendo o fluxo de esterilização a cada uso”. Marcio Morete, diretor comercial da Agnus Sistemas Logísticos.

Sistema campo limpo
O Brasil é líder mundial na destinação ambientalmente adequada de embalagens plásticas primárias de defensivos agrícolas, utilizadas em aproximadamente 76 milhões de hectares de terras cultivadas do País, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). “Alçar esse posto só foi possível graças ao programa brasileiro de logística reversa, denominado Sistema Campo Limpo, que recolhe 94% deste tipo de material e tornou-se referência mundial”, explica João Cesar M. Rando, diretor-presidente do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV). O programa foi estabelecido pela Lei Federal 9.974/00, que instituiu o conceito de responsabilidade compartilhada, que determina obrigações para cada elo da cadeia produtiva agrícola, envolvendo desde os fabricantes e distribuidores até os produtores rurais, com apoio do Poder Público. O sistema conta com 412 unidades de recebimento, das quais 111 são centrais e 301 postos, em 25 estados e também no Distrito Federal. Do total de unidades, 77 contam com o Agendamento Eletrônico de Devolução. O Campo Limpo funciona a partir da indicação em nota fiscal, pelo distribuidor, do local onde o produtor rural deve devolver as embalagens vazias de defensivos agrícolas. Antes, porém, é necessário esvaziar o conteúdo das embalagens no pulverizador, realizar o processo de tríplice lavagem ou de lavagem sob pressão e perfurar o fundo do recipiente, evitando que ele seja reutilizado. A devolução deve ocorrer dentro do prazo de até um ano. A responsabilidade por dar a destinação ambientalmente correta às embalagens vazias é da indústria fabricante, que as encaminha para reciclagem ou incineração. Ao Poder Público cabe a fiscalização do funcionamento do sistema, como a emissão de licença para as unidades de recebimento dos materiais e o apoio aos esforços de educação e conscientização do agricultor em parceria com os fabricantes e distribuidores. Desde o início do trabalho, em março de 2002, até dezembro de 2017, mais de 450 mil toneladas de embalagens vazias foram destinadas adequadamente. Neste período, o trabalho realizado no âmbito do Sistema Campo Limpo evitou a emissão de 625 mil toneladas de dióxido de carbono (CO²), o que equivale a 1,4 milhão de barris de petróleo não extraídos ou a três milhões de árvores plantadas.

“A responsabilidade por dar a destinação ambientalmente correta às embalagens vazias é da indústria fabricante, que as encaminha para reciclagem ou incineração.” João Cesar M. Rando, diretor-presidente do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV).

 Por Claucio Brião

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