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Por que os últimos dias do mês causam tanto estresse e correria?

A expressão “síndrome do fim de mês” é muito comum para todos os profissionais da cadeia de abastecimento, estejam eles trabalhando no recebimento, no PPCP (planejamento, programação e controle da produção) ou até mesmo na expedição de quaisquer produtos.

Por incrível que pareça, não são somente os produtos de origem agrícola, de época ou sazonais que estão sujeitos às variações de demanda em certos períodos.

Aliás, no mundo inteiro há uma relativa correria ou nervosismo em fins de mês, e mais ainda em fins de trimestre, pois as metas têm de ser alcançadas e os números devem ser divulgados aos acionistas e nas bolsas de valores, caso a empresa tenha ações no mercado aberto.

 

No Brasil, este fenômeno era muito comum e fazia algum sentido na época da inflação galopante, onde todos os meses (e, em alguns casos, até semanas) havia alterações nas tabelas de preços.

 

Superada esta fase na década passada, o tal efeito da síndrome de fim de mês continua enraizado na nossa cultura, muito aquém dos outros países. E por quê?

 

Consultando diversos profissionais, já catalogamos as mais diversas respostas. Eis algumas, e até curiosas:

1 – O efeito tributação, onde impostos são recolhidos no mês em curso ou no próximo, assim todo e qualquer faturamento acaba sendo com a data do dia primeiro;

2 – Se a empresa recebe os produtos no dia primeiro, ela tem 30 dias para processar ou desovar este estoque e assim acaba fechando o mês com estoque menor;

3 – Como muitas programações de produção são ainda baseadas em um lote/mês, para compensar o tempo utilizado para mudanças de produto (“setup”), há um velho hábito, visando melhorar os indicadores de produtividade, de produzir os grandes lotes no início do mês, deixando-se para o final do mês os pequenos lotes. Assim, se o cliente compra dois ou mais produtos e quer receber tudo numa remessa só, pagando um único frete, e um destes produtos é de pequeno lote, nem preciso dizer que a empresa vai arrastar aquele estoque do de lote grande, até completar o pedido, faturar e entregar. O mesmo acontece se, no lugar dos dois produtos, são duas peças que vão alimentar uma linha de montagem.

4 – Outro fenômeno é que a maioria das empresas e até o Governo fazem o pagamento a seus funcionários em fim de mês ou até no dia 05 do mês seguinte. A partir daí, e como é hábito em algumas regiões, as donas de casa administram os recursos do lar, em especial a alimentação, indo a um supermercado nos cinco primeiros dias do mês, sendo mais comum num fim de semana, pois ir ao supermercado para alguns é um entretenimento e sempre há promoções. O que isto produz na cadeia de abastecimento? Um verdadeiro “chicote”.

 

Outra consequência desta concentração de consumo é o blefe que algumas empresas do varejo (e do atacado também) exercem sobre as indústrias. Muitas vezes, o varejo não repõe o seu estoque, dizendo que não vendeu e está abastecido ou até super estocado, o que não é verdade, mas este não abre os seus armazéns para comprovar.

 

Como as indústrias precisam faturar para cumprir os seus compromissos, chega um dia, geralmente após o dia 25, que ela é obrigada a fazer as promoções para desovar o seu estoque e isso acaba causando um vício de todo mês aguardar o desespero de algumas indústrias e aí sim obter as maiores vantagens.

 

Por outro lado, observa-se, mais uma vez nos supermercados, que entre os dias 05 e 30, além destes estarem quase vazios – pois são feitas apenas as compras de emergência ou perecíveis – as promoções e descontos não atraem a maioria dos consumidores.

 

Certa vez, um treinando disse-me: “a mulher tem de comprar tudo para o mês de uma só vez, pois se sobrar dinheiro, o marido vai gastar com outras coisas, e aí se não tiver dinheiro suficiente para comprar alimentos no fim do mês, as crianças vão passar fome”.

 

Há também outras causas do fenômeno do fim do mês, tais como as falsas antecipações de uma exportação, apenas para evitar que o produto e a documentação não se atrasem para não perder o compromisso.

 

Na época da safra agrícola, esse “pico” de fim de mês gera uma falta crítica de caminhões, que acarreta em atrasos no escoamento da produção.

 

Bem, todas estas e outras razões que existem criam um efeito em cascata que vai até a fonte de matéria-prima: a estratégia de empurrar a produção baseada em previsões de vendas muitas vezes com dados históricos que simplesmente não acontecem, causando mais uma vez uma descrença nos sistemas “just-in-time” (hoje chamado de manufatura enxuta), kanban e outras ferramentas de puxar, CPFR (“collaborative planning, forecasting and replenishment”, previsão, planejamento e reabastecimento colaborativos) entre comércio e indústria.

 

 

Mesmo com as informações “on-line” ou consultas via internet, um grande e concentrado consumo em poucos dias não estabiliza o abastecimento.  

* Reinaldo Moura é fundador e diretor do Grupo IMAM, composto pelo Instituto IMAM, IMAM Consultoria e IMAM Feiras e Comércio. É autor de diversos livros e instrutor de cursos relacionados à área de logística.

 

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