Peças para Empilhadeiras:
setor reivindica menor tributação
Disputa entre originais e multimarcas também aquece segmento que cresceu nos últimos anos
O mercado de peças para empilhadeiras enfrenta muitos desafios no Brasil, com situação diferente na Europa. Apesar disso, está bastante aquecido motivado pelo aumento do consumo de empilhadeiras. Porém, a alta carga tributária sobre o produto importado favorece o mercado de peças multimarcas. Essas foram as principais con-clusões da Mesa-Redonda sobre peças para empilhadeiras realizada na sede da IMAM, em São Paulo.
Participaram do encontro o ge-rente comercial da Arizon, Sérgio Quaglio, o gerente de marketing, Kleber Li e o gerente comercial José Rubens Fassina, da Pothimaq, o gerente comercial da Mapel, Marcílio Ribeiro dos Anjos, o gerente-geral da Marcamp, Antonio Carlos Silvestre Jr., o diretor daEmpicamp, Jean Robson Baptista, o diretor executivo da Retrak, Fabio Dailson Pedrão, o gerente de pós-venda da Clark, Geraldo Goldschmidt, o diretor da Coparts, Carlos Fernandes, o gerente de peças de reposição da Paletrans, André Barbosa da Silva, o diretor da Piovan, João Batista Piovan, o gerente de suprimentos da Movicarga, Ubirajara Del Moral, o gerente de peças da Hyundai, Erasmo de Carvalho Jr., o diretor da Alphaquip, João Kassardjian, o diretor geral Liu Yi e o gerente de vendas da CHL (Zuba) e o supervisor de suprimentos da Bauko, Alexandre Schion.
Alta demanda
A demanda aquecida abriu o debate. “O cenário econômico favorável está motivando as empresas a não só adquirir mais empilhadeiras como reformá-las, aumentando o consumo de peças”, diz Pedrão, da Retrak, justificando o crescimento do setor. De acordo com ele, o mercado brasileiro de empilhadeiras em 2010 foi de 22 mil veículos, segundo os cálculos mais otimistas.
“Há falta de empilhadeiras novas, o que está levando as empresas a reformarlas antigas para atender suas necessidades. Porém é preciso que as empresas saibam fazer uma gestão eficiente de seu estoque de peças para não imobilizar capital em itens desnecessários”, complementa Sérgio, da Arizon.
“Vejo também uma preocupação dos distribuidores em manter um estoque de peças robusto e confiável”, diz Marcílio, da Mapel. “O pós-venda é hoje um grande diferencial, e os clientes estão atentos a essas futuras necessidades”, completa.
Originais ou multimarcas?
A manutenção e a substituição de peças de uma empilhadeira já não são mais feitas da mesma maneira que antigamente. Isso porque os equipamentos atuais são mais sofisticados e as peças também seguem essa tendência. De acordo com Piovan,o grande número de fabricantes de peças multimarcas pode ser tanto positivo como negativo para o mercado. “O cliente compra uma peça multimarca de baixa qualidade e com preço bem mais competitivo uma única vez, e percebe que a peça original tem durabilidade quatro vezes maior. Acaba fazendo os cálculos e voltando para as peças originais”, acredita. “Em uma simples consulta à internet é fácil ver a quantidade de distribuidores de peças de empilhadeiras. Porém metade desse mercado é de empresas informais, que aca-bam ganhando os clientes pelo preço.”
“Muitas vezes o mesmo fabricante de peças que fornece para as empresas de empilhadeiras fornece ao mercado paralelo. Temos que ser competitivos”, afirma Jean, da Empicamp.
A opinião de Jean é compartilhada por Geraldo, da Clark. “O que acaba acontecendo na prática é que o fabricante de empilhadeiras faz uma encomenda de mil peças a um fornecedor, por exemplo. Este, por sua vez, fabrica oito mil ao invés de mil. Essa diferença alimenta o mercado paralelo. Outra situação vivenciada por nós: quando rejeitávamos um lote de peças com defeito, devolvíamos ao fabricante. Logo em seguida, essas peças voltavam ao mercado, sendo comercializadas pelas empresas multimarcas.
Quando detectamos que isso acontecia, passamos a quebrar as peças antes de devolvê-las”, diz Geraldo.
Piovan faz outro alerta: “o próprio fabricante compra do mercado paralelo para suprir uma necessidade emergente de seu estoque. Se o cliente retirar as diversas etiquetas daquela peça verá que é proveniente do mercado paralelo, o que é um absurdo”.
Erasmo, da Hyundai, explica que é dificílimo comprovar a qualidade de um filtro, por exemplo. “O cliente só vai perceber a qualidade de um filtro com o passar do tempo. O distribuidor deve investir na força da marca, mostrar que seu produto custa um pouco mais, mas a qualidade é garantida.”
“Uma técnica simples para mostrar a diferença entre um filtro genuíno e um multimarca de baixa qualidade é comparar o peso entre eles. O de boa qualidade será cerca de 50 gramas mais pesado que o outro. Não só a especifi-cação do papel é diferente, se você do-brar o de baixa qualidade ele trincará”,
sugere André, da Paletrans.
Piovan destaca a perda de garantia com o uso de peças de baixa qualidade. “O cliente é fiel à marca durante o período de garantia do produto pois sabe que se tiver algum problema no veículo e este estiver com peça não original, perderá a garantia.”
Seguindo essa linha de raciocínio João, da Alphaquip, explica: “se o mo-tor de uma empilhadeira quebra e ela está com uma peça comprada de uma distribuidora, o cliente pode exigir que esta faça o reparo. Já se for comprada uma peça multimarca, ele fica sem ter a quem recorrer”.
Carga tributária
Segundo os presentes ao evento, o maior motivo da diferença de preços entre peças originais e multimarcas está na alta carga tributária, principalmente na importação das peças originais. “Acredi-to que o cliente está disposto a pagar a mais por uma peç original. A questão é quanto a mais? Em geral, os clientes consideram aceitável um valor até 20% su-perior, diante dos benefícios de uma peça original. Mas pagar o dobro do preço não é viável”, diz Jean, da Empicamp.
“A questão de quanto pagar a mais passa pela questão dos impostos. O fornecedor da peça vende-a para o fabricante de empilhadeiras, que passa para o distribuidor, deste para o máster ‘dealer’ até chegar aos clientes. Há toda uma cadeia de impostos que faz com que essa diferença de valores entre uma peça original e uma multimarca não alcance só os 20% de diferença”, diz Carlos, da Marcamp.
Já Carlos, da Coparts, destaca algumas vantagens das peças multimarcas: “Há um preconceito grande dos fabricantes de empilhadeiras em relação às peças multimarcas. Porém eles não se atentam ao fato de que muitas vezes o fabricante não tem determinada peça para fornecer ao cliente, que vai, então, procurá-la no mercado paralelo, para colocar a empilhadeira funcionando novamente. A fábrica muitas vezes de-mora cerca de 120 dias para fornecer uma peça importada. O segmento de multimarcas é um mal necessário”, aler-ta. André, da Paletrans, resume: “Deve haver um equilíbrio justo entre as peças originais e as multimarcas para que o mercado não seja invadido por peças de má qualidade. Mas um nicho de merca-do sempre vai existir”.
Carlos, da Coparts, destaca outra vantagem das peças multimarcas: “As fábricas só fornecem peças para cada modelo de empilhadeira por um período de dez anos e, muita vezes, uma empilhadeira tem vida útil maior que isso. Nessa hora, uma peça multimarca é essencial para manter a empilha-deira rodando”.
Já Rubens, da Pothimaq, lembra:
“Um distribuidor tem um custo alto para manter em estoque peças antigas e isso eleva seu preço. Como as empresas multimarcas têm um giro grande, conseguem diluir esse custo”. Alexan-dre, da Bauko, sugere a parceria entre fabricante e fornecedor para garantir preço baixo. Apesar de trabalhar com peças e empilhadeiras importadas, Marcelo, da CHL, diz que não tem problemas para receber empilhadeiras da matriz chinesa.
A conclusão do encontro foi que deve haver uma união do mercado para se conseguir junto aos órgãos federais
mudanças nos tributos de importação de peças de empilhadeiras, muitas vezes com preço muito superior ao comercializado na Europa. “Mas as peças multi-marcas sempre vão existir e têm a sua função. Maior empresa multimarca do mundo, a TVH tem peças para veículos que já saíram de linha, atendimento em vários idiomas, agilidade e preço com-petitivo”, finaliza Piovan.