PORTO DE ITAGUAI 2

PORTO DE ITAGUAI 2Esta nova revolução industrial tem de se traduzir em benefício para todos. Porque as máquinas são fantásticas, mas são instrumentos. E porque nada bate o relacionamento humano e o trabalho em equipa.

Para que não restem dúvidas de que o Shipping 4.0 é já uma realidade dos dias de hoje, basta referir ao porto de Qing Dao, na China. O primeiro porto a operar sem intervenção humana, 100% automatizado. Mas não precisamos de ir tão longe. Os terminais de Hamburgo e de Barcelona encontram-se já igualmente com elevado grau de automatização. Outros terminais europeus vão também implementando sistemas automáticos para a movimentação das suas cargas. Num futuro muito próximo (talvez até mais rápido do que se pensa), a logística e o transporte de mercadorias será um exercício completamente automatizado em que o papel do homem será cada vez menor, para não dizer nulo.

Esta automatização dos serviços traz, naturalmente, vantagens. A logística será mais eficiente, mais produtiva e menos dispendiosa. E, para além disso, estará sujeita a muito menores disrupções.

Curiosamente, o automatismo dos serviços de logística e transporte não constitui uma verdadeira revolução no modo produtivo. Na verdade, o transporte continuará a ser feito do mesmo modo, sem quaisquer alterações qualitativas – a diferença consistirá em que deixará de ter humanos na produção. No entanto, o papel dos players na indústria será substancialmente alterado.

De facto, com a entrada da Inteligência Artificial, do Big Data e da Rede Global, bem como das plataformas e-commerce, a intermediarização entre a produção e o consumo irá diminuir significativamente. E será por aqui que a revolução 4.0 irá transformar radicalmente o shipping e a logística.

O automatismo na produção corresponderá à indiferenciação do produto, neste caso, dos serviços. A diferenciação dos serviços tenderá a deixar de ser feita no mar, como hoje já vai sucedendo cada vez mais, para passar a ser feita exclusivamente em terra – quem conseguir ter um bom serviço em terra, diga-se no pós-venda, terá maiores vantagens. E é exatamente nesta área que os operadores devem apostar para fazer a diferença e ripostar face ao incontrolável crescimento automático.

Se me perguntarem diretamente qual a minha opinião sobre o Shipping 4.0, respondo que estas novas realidades presentes e futuras constituem uma enorme oportunidade. Uma enorme oportunidade de reforço do trabalho humano nas áreas comerciais e no serviço pós-venda, retirando-o do trabalho manual, repetitivo e sem valor.

Preocupante é a produção 3D, com o seu previsível tremendo impacto ao tornar os consumidores autoprodutores ou redeslocalizando a produção para junto do consumo. Para além de todos os brutais e gigantescos impactos nas sociedades, a produção 3D poderá influenciar dramaticamente toda a cadeia logística. É uma questão que merece séria reflexão e que devemos colocar a par dos outros dois temas cada vez mais importantes e relevantes: o impacto ambiental e a segurança.

O Shipping 4.0 coloca-nos, portanto, grandes interrogações e penso que os agentes logísticos têm um grande desafio pela frente ao encararem e ao se ajustarem a esta nova realidade.

Termino como comecei – o Shipping 4.0 já é uma realidade e é portadora de enormes vantagens para todos! Mas uma muito profunda reflexão por parte da sociedade é urgente para que as consequentes transformações no processo produtivo se processem sem ruturas e para que o resultado final seja a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

Esta nova revolução industrial tem de se traduzir em benefício para todos. Porque as máquinas são fantásticas, mas são instrumentos. E porque nada bate o relacionamento humano e o trabalho em equipa.

Por Carlos Vasconcelos, Presidente do Conselho de Administração da Medway

By gab

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